Sozinho, exercício não emagrece, mas aumenta músculo e limita fome

Mario Kanno

GABRIEL ALVES
DE SÃO PAULO

Como dar a má notícia para um paciente obeso de que o exercício provavelmente não vai emagrecê-lo? E que, mesmo assim, ele deve se esforçar para manter uma prática regular? “É um assunto delicado”, resume Pedro Hallal, cientista brasileiro de renome e entusiasta dos benefícios da atividade física.

O exercício comumente é listado entre as boas práticas para quem quer perder peso, mas, sozinho, ele parece ser capaz de fazer pouco por aqueles que almejam ver algum resultado na balança.

“O emagrecimento depende essencialmente de uma conta simples: é o total de energia ingerida na alimentação menos o quanto o organismo gasta diariamente”, diz Hallal, que coordenou, para a revista médica “Lancet”, uma série de estudos sobre o impacto da inatividade física na saúde global.

Brasil acima do peso

Se o plano é não mexer muito na dieta –fator mais importante para o emagrecimento—, a alternativa seria então aumentar o gasto energético. A questão, porém, é mais complicada do que parece, começando pela quantidade.

A prática de atividade física moderada por 30 minutos diários tem impacto pequeno no combate à obesidade, afirma Hallal. “Todas essas diretrizes da OMS e do Ministério da Saúde de praticar meia hora diária de atividade física diária foram pensadas para outros desfechos, como prevenir infarto, diabetes, hipertensão, acidente vascular cerebral e cânceres. Além disso, há melhora da saúde óssea e da saúde mental, diminuindo também o risco do mal de Alzheimer.”

Quando a meta é combater a obesidade, pode ser necessária uma dose maior de exercício: de 45 minutos a 1 hora por dia. Mas não de qualquer tipo. Estudos recentes têm apontado que exercícios de força, como lutas e musculação, são mais eficazes do que caminhadas, por exemplo.

MÚSCULO

A educadora física e professora da Unifesp Ana Dâmaso e colaboradores constataram, após dez anos de pesquisa, que corrida e caminhada em esteira até ajudam a reduzir a massa gordurosa, mas também fazem o indivíduo perder músculo, o que atrapalha o emagrecimento.

O músculo é um tecido metabolicamente mais ativo do que a gordura, ou seja, quanto mais músculo uma pessoa tem no corpo, mais energia ela gasta diariamente. A melhor opção, no caso, seria fazer um exercício misto, combinando as duas modalidades.

Segundo Ana Dâmaso, o desafio é preservar, com o exercício, a quantidade elevada de músculo ao mesmo tempo em que se controla a alimentação, mantendo a taxa metabólica e evitando o efeito sanfona.

Outra dica para o obeso que quer fazer exercício e emagrecer –e não se frustrar no caminho– é não ficar olhando para a balança.

Isso porque o exercício costuma aumentar a quantidade corporal de massa magra (composta principalmente de músculos) e diminuir o de massa gorda. Como a primeira é mais pesada do que a segunda, é possível se assustar e achar que a prática de exercício engorda.

“Por isso que todo o meio acadêmico recomenda medir o emagrecimento não apenas em quilos, mas sim em quilos de gordura ou percentual de gordura”, diz Hallal.

Os especialistas elencam mais motivos para que a atividade física não fique relegada a um segundo plano na vida de quem quer emagrecer.

Um deles é que o exercício regular é capaz de controlar a fome e reduzir a ingestão de carboidrato e de gordura, afirma Ana Dâmaso.

Outra razão para levantar do sofá e se mexer, diz Pedro Hallal, é que é melhor para a saúde ser “fat and fit”, gordo e ativo, do que só gordo (e, de repente, até mais saudável do que algumas pessoas magras e sedentárias).

Mas uma precaução que o obeso deve adotar é não exagerar –especialmente para evitar lesões e outras frustrações, que podem ser descontadas na comida.

Como o plano só dará resultados no médio ou longo prazo, o ideal é que a prática seja, acima de tudo, sustentável.

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